notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Mais vale uma má democracia que uma boa ditadura 

Lembro-me de quando era criança de verificar o medo que os adultos sentiam quando diziam que escutavam uma emissora de rádio clandestina, não fosse um carro com antenas grandes (radiogoniómetro) apanha-los. E, para que isso não acontecesse, colocavam um copo de água em cima da telefonia. 

Lembro-me dos avisos de minha mãe, quando eu já era rapazinho, naquele dia 1º de maio, para que não apanhasse nenhum panfleto daqueles espalhados pelo chão da baixa de Setúbal, não fosse alguém ver e denunciar. 

Lembro-me de nas lojas da baixa se comentar “à boca pequena” os nomes daqueles conhecidos opositores ao regime que durante a noite a PIDE tinha ido prender a suas casas. 

Lembro-me de mulheres que se vestiam de negro por verem seus filhos incorporados no Exército e serem enviados para as guerras travadas em África.
Lembro-me que depois de ter sido incorporado na tropa e já a completar a especialidade ter sido obrigado a preencher a minha própria ficha para controlo da PIDE/DGS, a temida polícia politica. 

Lembro-me de após chegar da Guiné, e depois de ter uma ocasional conversa na SETUBAUTO, ter recebido a visita no dia seguinte de dois inspetores da PIDE para me interrogarem. 

Lembro-me de nas últimas eleições “democráticas” antes de 25 de abril de 1974 ter ido acompanhar a minha namorada que por ser funcionária publica tinha de votar enquanto eu não o fiz. 

Lembro-me da grande manifestação de alegria e entusiasmo genuíno naquele 1º de Maio vivido em liberdade na cidade do Sado. 

Lembro-me de em 25 de abril de 1975 estar bastante orgulhoso por ter sido convidado a integrar uma mesa de voto, sem auferir qualquer provento financeiro, naquelas que foram as primeiras eleições livres. 

Hoje, passados tantos anos sobre a devolução da liberdade ao povo e a instauração da democracia muita coisa mudou e o consumismo e individualismo sobrepõem-se agora, frequentemente, à generosidade e ao interesse coletivo. 

Porque não posso esquecer aqueles tempos de obscurantismo EU VOU VOTAR e aconselho todos os meus amigos a fazê-lo, não importando em que formação politica seja, sabendo que mais vale uma má democracia do que uma boa ditadura. 

Rui Canas Gaspar 

2017-setembro-28 


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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Hoje ficamos a ver as estrelas no PUA 

Foram poucos os que tiveram o raro privilégio de apreciar esta bela noite estrelada junto à foz do Sado. 

De facto, depois de jantar quando cheguei ao PUA estava tão escuro como nunca tinha visto.  As luzes naquele espaço eram apenas as dos holofotes das instalações. 

Um curto-circuito tinha originado o apagão, pelo que no meio da escuridão o céu apresentava-se em toda a sua beleza qual manto azul-escuro completamente coberto de incontáveis e cintilantes estrelas. 

Os dois patrulheiros de serviço atarefavam-se a tentar resolver o problema e, foi com o recurso ao telemóvel, que o líder da dupla contatou o chefe que com as instruções à distancia deu para resolver parcialmente o problema. 

Assim sendo e enquanto não chegam os eletricistas para solucionar de vez a anomalia motivada por água de rega que está a afetar um dos focos, a secção correspondente foi desligada e o restante parque voltou a ter luz. 

Gostei de apreciar o trabalho eficiente do Américo, antigo homem do mar, de 70 anos de idade e do seu companheiro. O seu desembaraço e eficiência permitiram resolver este assunto num curto espaço de tempo. 

Os Patrulheiros são mais do que uns reformados que vão olhando pelo Parque Urbano e Avenida Luísa Todi, eles são não só os guardiões como aqueles que resolvem muitos dos assuntos que passam despercebidos aos habituais utentes. 

Rui Canas Gaspar 



2017-setembro-26

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Rampa da Arrábida ou o sonho tornado realidade

Por detrás de um qualquer empreendimento, pequeno ou grande, há sempre o sonho de alguém que, por vezes, remando contra ventos e marés o consegue tornar realidade.

A Rampa da Arrábida, provavelmente o mais importante evento desportivo realizado em Setúbal neste ano de 2017 é disso exemplo, dado ter nascido do sonho de Fernando Matias, um homem com raízes setubalenses e com uma vida ligada aos automóveis.

Os seus avós eram proprietários de uma fábrica de conservas aqui na cidade e viriam a falecer num acidente de automóvel, quando regressavam de Palmela em 1949, num Citroen Arrastadeira, deixando órfão um rapaz de 12 anos que foi morar para casa de uns tios, em Lisboa.

A criança cresceu lá pela capital, casou-se, mas o seu coração ficou desde sempre ligado a Setúbal, para onde se deslocava quase todos os fins de semana frequentando naquele tempo as lindas praias da serra mãe, de Galapos e Portinho da Arrábida.

Setúbal naturalmente estava sempre no seu coração e é desta linda terra que guarda as melhores recordações de infância.

O pai de Fernando Martins, até perto dos 40 anos, competiu nalgumas provas automobilísticas e, a Rampa da Arrábida, era a sua favorita por questões óbvias, logo, naturalmente também se tornou a do filho.

Com o final da competição na serra muitos adeptos do desporto automóvel ficaram tristes e Fernando Martins nunca ficou conformado. Por isso, um dia decidiu juntar um grupo de amigos igualmente amantes do desporto automóvel apaixonados pela Serra da Arrábida e sobretudo decididos a trazer de volta a competição na Rampa.

Durante três anos este grupo trabalhou duro tendo em mente atingir o seu principal objetivo que era um dia ver de novo a Rampa da Arrábida, inicialmente organizada pela secção de motorismo do Vitória Futebol Clube, ser uma realidade.

Claro que opositores, descrentes e céticos seriam o maior obstáculo a vencer, mais que as próprias dificuldades próprias de um grande evento com estas características muito específicas.

O sonho de Fernando Matias partilhado e assumido igualmente por Luís Caramelo, Fernando Tomé, José Manuel Barreto, Orlanda Matias, Bruno Coutinho e André Lopes estava prestes a tornar-se realidade.

Durante longos meses eles fizeram de tudo um pouco de forma a tornar a Rampa mais segura para os utilizadores. Limparam bermas e vegetação, lavaram a rampa onde se encontrava suja de cimento, melhoraram o pavimento onde o mesmo tinha socalcos de raízes de árvores e até conseguiram que parte dos blocos de pedra e barras de betão das bermas fossem substituídas por centenas de metros de rails protetores, mais seguros para todos os automobilistas e motociclistas que utilizam aquele troço da Serra da Arrábida.

Para dar mais força à sua modalidade aqueles amigos decidiram formar um clube visando promover o desporto automóvel porque desta forma seria mais fácil obter licenciamentos e conseguir os imprescindíveis apoios oficiais e particulares. Nascia assim, em 2016, o Clube de Motorismo de Setúbal (CMS) e com ele regressava a Rampa da Arrábida, um sonho tornado realidade no sábado dia 23 de setembro deste ano de 2017.

Rui Canas Gaspar



2017-setembro-20





domingo, 17 de setembro de 2017

Em Setúbal “só os burros não mudam” ou a arte em toda a parte. 

Esteve anunciado para o dia 23 de maio de 2014 pela Imocham e Câmara Municipal a inauguração de uma exposição cujas enormes fotografias chegaram a ser afixadas no alçado lateral do vetusto edifício onde estão sedeadas a Cruz Vermelha e a Sociedade Musical Capricho Setubalense. 

Se a exposição em si poderia ser pacífica, não faria porém qualquer sentido que as fotos fossem colocadas naquele espaço nobre da cidade, pelo que a contestação popular se fez sentir particularmente nas redes sociais. 

E como diz a expressão popular que só os burros não mudam, a Autarquia setubalense não quis fazer esse papel e poucos minutos antes da exposição ser inaugurada, já com os cartazes lá afixados, cancelou o evento, tendo então mandado retirar as fotos que viriam a ser transferidas para outro local, junto à Praia da Saúde. 

Vem esta memória a propósito de um outro evento que terá lugar hoje, domingo, dia 17 de setembro de 2017 o qual terá por cenário o bonito e muito concorrido Parque Urbano de Albarquel com a inauguração de uma peça decorativa publicitando uma garrafa de Coca-Cola. 

Se sou a favor e aplaudo todas as manifestações artísticas e representativas das mais diferentes sensibilidades de que Setúbal tem sido alvo, não posso concordar com esta iniciativa cujo objetivo não visa o embelezamento do espaço público mas sim a publicidade a um comum produto de consumo. 

Se o objetivo da marca fosse o agradecimento pelos seus 40 anos de presença no país então colocaria à disposição dos artistas a mesma verba despendida com a “garrafa” e davam a possibilidade que se escolhesse o tema para uma obra de arte, colocando depois ao lado da mesma uma placa identificativa e com o nome do mecenas, tal como fez a Imocham com o soberbo grafite do “Rapaz dos Pássaros”, por exemplo. 

Se com o “engodo” de obra de arte se está a fazer publicidade descaradamente a um produto, independentemente do gosto de cada um, ainda que essa publicidade não seja feita por intermédio de cartaz ou outro qualquer método habitual, então que ela pague, tal como todos os outros meios publicitários colocados na via pública e não seja alvo de qualquer reconhecimento ou agradecimento público. 

Esta é a minha opinião como setubalense e vale o que vale, deixando bem claro que sou completamente alheio ao aproveitamento político ou partidário que alguns amigos eventualmente possam vir a fazer desta lamentável situação. 

Rui Canas Gaspar

2017-setembro-17