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domingo, 27 de março de 2016

Faltavam paredes em Setúbal para afixar tantos cartazes

Num destes dias, a propósito de uma conversa com alguém que tinha de afixar uns cartazes e sentia alguma dificuldade dado que não queria sujar paredes, lembrei-me de quão diferentes eram aqueles anos pós revolução 25 de abril de 1974.

Logo após a revolução a proliferação de informação veiculada pelos cartazes era de tal ordem que as localidades portuguesas debatiam-se com falta de paredes para colar tantos cartazes partidários e pintar tantos murais. Setúbal, naturalmente, não era exceção com enormes áreas urbanas totalmente forradas a papel.

Francisco Lobo, o comunista setubalense que então liderava a Câmara Municipal, viu-se um dia a braços com uma insólita situação.

No dia 1 de julho de 1975, ocorreu um incidente entre a Direção do Coral Luísa Todi e o Partido Socialista, devido ao facto de alguém do Coral ter colocado numa das paredes da cidade, um cartaz onde se anunciava determinado evento a levar a efeito na cidade.

A “gravidade” advinha do facto desse cartaz do Coral Luísa Todi ter sido afixado precisamente em cima de outros que já lá estavam na mesma parede e pertencentes ao Partido Socialista.

A Câmara Municipal, como era corrente na época, foi instada a tomar medidas contra este “atentado à democracia” porque até se constava que a direção da instituição tinha simpatias politicas mais consideradas à direita.

Na sequência deste acontecimento um grupo de elementos ligados à juventude do P.S. irrompeu pelo edifício dos Paços do Concelho, dando murros nas paredes do corredor e gritando na zona onde se encontrava o gabinete da presidência.

O coordenador do Partido Socialista, na altura Francisco Barbeiro, pediu então uma reunião com Francisco Lobo e desse encontro resultou que como forma de acalmar os ânimos a Câmara deveria emitir um comunicado condenando o acto do Coral por atentado à Democracia.

Isso não deve ter agradado à direção do Coral Luísa Todi que também quis ser ouvida, tendo então apresentado como justificação para o seu acto o facto dos cartazes do Partido Socialista se referiam a um acontecimento já passado e à falta de paredes disponíveis na cidade para afixação dos seus cartazes, lamentando o sucedido.

E assim, depois da tempestade política devido à colagem dos cartazes e após os devidos esclarecimentos, a que não foi alheio o comunicado da Câmara, a vida voltou a decorrer de forma calma em Setúbal e os cartazes a serem colados onde houvesse um pouco de parede para tal.

Rui Canas Gaspar
2016-março-27

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