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quinta-feira, 24 de março de 2016

A festa de São Luís da Serra
No domingo seguinte à Páscoa, comemora-se a Pascoela e é nessa altura que acontecem os tradicionais festejos junto à capela de São Luís da Serra, implantada num maciço calcário, em pleno Parque Natural da Arrábida, às portas de Setúbal, dando-se assim início aos tradicionais círios e romarias setubalenses.
Daquele local com vista desimpedida para toda a península de Setúbal e vale do Tejo o convívio entre os festeiros é o mesmo que agregou em torno da antiga capelinha os seus antepassados. Porém, a forma e as diversões do século XXI são naturalmente diferentes.
Longe vão os dias das grandes cavalhadas em que os homens montados nos seus burros mostravam a sua destreza e de olhos vendado tentavam, com um varapau, partir uma bilha de barro, pendurado num dos grandes pinheiros mansos.
Passados vão os tempos em que dali partiam, ao final do dia, os felizardos  a quem eram atribuídas gordas galinhas pelo seu desempenho nos jogos populares.
E também longe vão os tempos em que boa parte dos festeiros entravam em Setúbal, pelo Rio da Figueira, trocando as pernas devido à enorme bebedeira e com o corpo cheio de arranhões devido aos trambolhões que davam ao descer a serra, fruto daquele vinho tinto de Palmela que dava volta à cabeça dos romeiros.
Neste aspeto a tradição já não é o que era e hoje o convívio faz-se ao som da música de um qualquer artista popular contratado para o efeito ou de algum rancho folclórico. Para servir o povo está instalado um quiosque que vende bolos, sandes, sumos, cervejas e águas engarrafadas.
Há meio século ainda acorriam àquele lugar, a partir da cidade e das aldeias e vilas envolventes, a pé ou de burro, grandes multidões que levavam os seus farnéis e se dispunham a passar um bom dia de convívio a pretexto de homenagearem o protetor dos rebanhos.
Conta a lenda que certo dia andando um pastor com o seu rebanho de ovelhas deixou tresmalhar os animais.
O dia chegou ao fim, a noite caiu e o rapaz preocupado invocou São Luís da Serra para o ajudar a encontrar os animais perdidas, prometendo-lhe ofertar um fato quando fosse homem.
Pouco depois, escutou o balido das ovelhas e identificando o local onde se encontrava as foi buscar e levou-as em segurança ao redil.
Quanto ao fato que prometeu oferecer a São Luís não se sabe se o teria mandado fazer ao alfaiate ou se ficou por costurar por falta das medidas adequadas.
Rui Canas Gaspar
2016-março-24

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