notícias, pensamentos, fotografias e comentários de um troineiro

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Cuidado com a cabeça na passagem do ano

Desde que estive ao serviço das empresas por onde passei que costumo dedicar boa parte do tempo deste dia do ano à arrumação e eliminação de material e documentação de forma a entrar no ano seguinte com a casa em ordem e apta para nova jornada.

Hoje não foi exceção e logo pela madrugada foi a vez do E Fatura, o prático e moderno serviço da Administração Tributária mas que eu não consigo gostar, e vamos lá nós saber porquê…

A manhã prosseguiu com outro tipo de eliminação de artigos cá em casa e depois deste intervalo para descontrair com a escrita seguir-se-á o escritório outra área, para a qual já me vai faltando a paciência.

Nesta altura lembro-me sempre, e é esse o tema que gostava de partilhar convosco, de que este hábito já vem do berço. É que me recordo que desde menino ter ver minha mãe guardar um prato, ou tacho de barro, que estivesse danificado para dele se desfazer no último dia do ano.

Naquele tempo, há mais de meio século, os setubalenses não passavam o ano em alegres e dispendiosos reveillons, muito menos ficavam a olhar o céu deslumbrando-se com o inexistente fogo de artifício.

Chegada a meia-noite e ouvia-se a sirene dos bombeiros e logo os janelas das casas se abriam de par em par e ouvia-se um tremendo chinfrim de tampas de tachos a bater uns contra os outros.

Das mesmas janelas voavam para a rua os tais pratos falhados, ou tachos partidos que se viriam a desfazer em cacos contra as pedras da calçada, ou perto da cabeça de algum setubalense que por ali deambulasse ao sabor dos vapores do álcool.

Era assim que a generalidade do pessoal de então se divertia na passagem do ano e esta é uma das memórias que me ficou retida bem como o hábito não de atirar coisas pela janela, mas na versão atual de ir colocar uns sacos cheios de tralha ao molock aqui do bairro.

Com tachos, ou sem eles, com fogo de artifício ou sem ele, desejo-vos um ano de 2017 um pouco melhor do que este 2016 que se despede rapidamente.

 Rui Canas Gaspar



2016-dezembro-30

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A primeira visita aos Paços do Concelho setubalense
Esta manhã depois de uma série de assuntos tratados tendo por companheiro de andanças o meu neto acabamos por passar frente aos Paços do Concelho.
Perguntei-lhe se já ali tinha entrado ao que a criança respondeu que não. - Pois então vamos entrar nesta que é a casa de todos os setubalenses, disse-lhe eu.
Antes de entrar notei-lhe que na placa afixada estava escrito concelho com C e aproveitamos para notar a diferença do conselho com S utilizado quando queremos aconselhar.
O menino falou-me no presidente da câmara e eu informei-o que era uma senhora a nossa presidente, a primeira senhora à frente da Autarquia desde que ela foi formada.
Entramos no edifício e logo as simpáticas senhoras da receção entabularam conversa com a criança de resposta fácil e tal como o avô sempre disposta a uma boa conversa.
Porque o tempo já não era muito, estava a pensar ficar-me só pela escadaria de acesso ao primeiro andar e quando estava a explicar ao menino alguns pormenores, chega a presidente Dores Meira.
Apresento um ao outro e faço reparar que entre os dois existe algo em comum, pelo que a presidente ficou curiosa por saber, sobre este menino praticamente da idade da sua netinha.
Foi com um rasgado sorriso que o Salvador disse o dia do seu nascimento que muito alegrou o seu avô por dois motivos, é que nesse dia enquanto Dores Meira batia palmas na inauguração do nosso belo Parque Urbano de Albarquel, no Hospital de São Bernardo as dores da mãe deste menino eram outras dado que ele via pela primeira vez a luz do dia.
A presidente achou curiosa esta coincidência e ficamos por ali, porque ela já tinha alguns “clientes” à espera não a deixando sequer entrar no gabinete, mesmo assim, ainda pediu a uma colaboradora que abrisse as portas do Salão Nobre para que o menino pudesse apreciar aquele belo espaço.
Uma outra simpática senhora não só abriu como acendeu as luzes do salão e a criança mais uma vez surpreendeu não só o avô mas a cicerone ao identificar duas das figuras constantes no Tríptico dos Setubalenses Ilustres.
Foi uma visita rápida, ficando de fazer outra com mais tempo para que o menino fique a conhecer esta que é a principal casa coletiva dos setubalenses, um povo a que ele pertence e que o seu avô fará tudo o que puder para que ele fique a conhecer o melhor possível as suas raízes, isto porque ninguém pode amar o que desconhece.
Rui Canas Gaspar
2016-dezembro-28

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Conhece os Guerreiros de Xian ? 

São grandes figuras em tamanho natural de antigos guerreiros chineses e cavalos, cujas réplicas se encontram expostas logo junto à vedação da entrada da Quinta da Bassaqueira e por isso mesmo são visíveis a partir do exterior para todos os que passam na movimentada Estrada Nacional 10, em Vila Nogueira de Azeitão.

Até há poucos anos as figuras estavam pintadas de forma mais realista. Presentemente estão pintadas de forma uniforme tendo-se utilizado a cor azul forte.

Estas não são figuras originais, mas sim cópias, porém sem elas não teríamos o privilégio de ter uma noção tão real e palpável desta maravilhosa descoberta arqueológica chinesa.

O primeiro imperador Qin Shihuang, antes de morrer, duzentos anos antes de Cristo ter vindo à terra, mandou fazer uma autêntica réplica de guerreiros, cavalos e carros do seu exército que deveriam ser enterrados com ele junto ao mausoléu para si mandado construir.

Em março de 1974 agricultores que procediam à abertura de um poço, a leste de Lishan, depararam-se com as primeiras figuras. Era o início de uma das maiores descobertas arqueológicas da História. Até ao momento já foram encontradas mais de 8.100 estátuas, cada figura portando armas reais, como, lanças, arcos ou espadas de bronze.

Para além destas figuras foram também encontrados grandes tesouros e objetos artísticos no mesmo local o que atesta o poder e importância daquele imperador.

Os estudiosos pensam que na construção do mausoléu deste governante chinês tenham trabalhado mais de 700.000 artesãos que levaram 38 anos até terem dado a obra por concluída. Por aqui se pode imaginar a sua grandiosidade!

Várias décadas depois deste achado os arqueólogos continuam a escavar e é bem provável que venham a ter novas surpresas. É que o exército de terracota foi encontrado em apenas três diferentes trincheiras.

Aquelas figuras de barro tão bem elaboradas, depois de cozidas, eram cobertas com laca e pintadas o que lhes conferia maior resistência.

O comendador José Berardo adquiriu estas réplicas que disponibiliza para apreciação do público neste espaço e de forma gratuita. Assim, na impossibilidade de irmos à China ver os originais que anualmente são visitados por mais de dois milhões de pessoas, temos a possibilidade de ver aqui, em pequena escala, uma réplica de grande qualidade.

Rui Canas Gaspar



2016-dezembro-26

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Quinhões e Tecas 

Durante muitos anos os pescadores setubalenses da pesca da sardinha não tinham um vencimento fixo, ainda que pequeno, mas somente recebiam em função do peixe que conseguiam capturar.

Uma traineira tinha uma companha de cerca de 18 homens e estes recebiam conforme a sua categoria. Assim sendo, os ganhos eram repartidos em partes percentuais.

O mestre da embarcação poderia auferir entre 4 e 7 partes.

O contramestre, ou mestre de leme ganhava duas a duas partes e meia. 

O motorista era o único que auferia um salário fixo e recebia ainda duas partes e meia do valor pescado.

Já o pedreiro, aquele homem que conhecia os fundos marinhos e o local onde se encontravam as rochas que podiam partir as redes, ganhava duas partes e meia.

Os dois tripulantes da chata, pequeno barco que operava no interior  do cerco das redes, ganhavam uma parte e mais uma teca de peixe ao critério do mestre.

O escrivão, homem que tinha a responsabilidade pela escrita a bordo, auferia uma parte e meia.

Já o mestre de terra, aquele profissional que não ia ao mar para ficar a tratar das redes em terra, ganhava uma parte e meia.

Os quinhões de peixe eram normalmente divididos recorrendo-se a sorteio e eram feitos lotes de valor idêntico. Depois um pescador virava-se de costas para o peixe, enquanto outro apontando para um lote pergunta: - Para quem é este? Ao que aquele que estava de costas dizia o nome de um seu camarada e assim continuaria até ao último lote.

Quando algum camarada ficava doente o mestre mandava também fazer um quinhão para entregar, ou vender, levando o dinheiro para aquele que estava impossibilitado de acompanhar a companha nas lides da pesca.

Era assim que funcionavam os pescadores setubalenses e provavelmente muitos outros de outras regiões. Homens valentes que sabiam o valor da camaradagem melhor do que ninguém e viviam-nano seu dia-a-dia.

São coisas da nossa terra. Coisas de Setúbal!

Rui Canas Gaspar

2016-dezembro-07

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vamos às beatas à Ti Prudência? 

Hoje é praticamente impossível escutarmos algo parecido com isto, vindo da boca de rapazes dos seus 11 ou 12 anos, porém, em Setúbal há cerca de 70/80 anos era de certo modo comum junto da rapaziada do Bairro de Troino.

A Ti Prudência, senhora então muito conhecida, tinha vindo do Algarve, de onde era também oriunda boa parte da população da zona poente da cidade e, em Setúbal, ter-se-ia estabelecido com uma taberna na Avenida Luísa Todi, perto da Travessa do Seixal, artéria que teria ido beber a sua designação a uma praia que ficava ali em frente, no outro lado da avenida.

Embora houvesse inúmeras tabernas na zona, era ali na Ti Prudência que os mestres dos barcos costumavam parar, conversar, beber um copo de vinho tinto e fumar um cigarro.

Esta categoria de pescadores era bem mais abastada, dado que ganhavam muito mais que ou outros homens do mar. Por haver mais fartura de dinheiro também se davam ao luxo de desperdiçar e, os seus cigarros não eram fumados até quase queimar as pontas dos dedos como a maioria dos outros pescadores o faziam.

Quando chegava a pouco mais de meio, atiravam-no para o chão e por ali ficavam à porta da adega da Ti Prudência muitas das pontas dos cigarros dos mestres.

Os rapazes de Troino, que mal tinham onze anos começavam a embarcar na vida do mar, muito pouco ganhavam e aquilo que auferiam não chegava para comprar os cigarros “mata-ratos” que quase todos fumavam.

Daí que eram aos magotes aqueles pequenos pescadores que diariamente iam às beatas, para com essas pontas fazerem novos cigarros.

E era à porta da taberna da Ti Prudência, taberna que passados tantos anos ainda lá está, hoje sem este tipo de fumadores e transformada num típico e conhecido restaurante setubalense que a colheita era maior porquanto os mestres de então eram nesse aspeto os que mais desperdiçavam.

Rui Canas Gaspar
2016-dezembro-05

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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A última viagem dos bois do “campo do careca”

As redes da pesca de cerco, fabricadas em fio de algodão, de algumas traineiras setubalenses chegavam ao “campo do careca”, em carroças puxadas por mulas, para serem tingidas, ou seja para ficarem impermeabilizadas depois de uma passagem por alcatrão.

Num antigo tanque de rega eram despejados alguns bidons de alcatrão e as redes iam passando por dentro dele, puxadas à frente por dois pescadores e ajudados por outros dois que, cada um com um remo, iam empurrando as redes para o fundo a fim de que nada ficasse por tingir.

Depois desta passagem as redes eram postas a secar ao sol e posteriormente de novo carregadas para a doca onde seriam embarcadas nas traineiras.

E foi numa destas idas desde o tal “campo do careca” que uma carreta carregada de redes, puxada por uma junta de bois, chegou à Doca dos Pescadores, junto ao “cais do carvão” ou seja à estacada nº 1.

Mas, porque a manobra com a carreta não tivesse sido bem feita, ou porque o responsável pela mesma a quis colocar o mais junto possível da embarcação, o facto é que o acidente aconteceu.

A carreta resvalou para dentro da doca, arrastando consigo a junta de bois, para surpresa de todos aqueles homens do mar que incrédulos assistiram à cena, enquanto as redes iam para o fundo da doca.

O atrapalhado homem da carreta começou então a chamar os atordoados bois pelos seus nomes e os animais seguindo a voz do dono foram nadando até ao plano inclinado. Logo que sentiram solo firme sob as suas possantes patas trataram de abanar as orelhas sacudindo a água e começando a subir.

Já cá em cima o responsável pela carreta desatrelou os animais e levou-os de volta para a sua quinta no “campo do careca” e nunca mais aqueles animais voltaram a fazer este trabalho, sendo então substituídos por mulas.

A história é verídica e  passou-se em Setúbal há cerca de seis dezenas de anos, tendo sido  contada por Francisco Gaspar, um antigo pescador de 91 anos que assistiu à ocorrência.

O “campo do careca” ficava na Quinta da Saboaria, que começa no final poente da Avenida Luísa Todi e prolongava-se pelo espaço onde hoje estão erigidos os novos edifícios na estada que vai para as praias da Arrábida.

São “coisas de Setúbal”, são histórias da nossa terra de gente do mar.

Rui Canas Gaspar

2016-novembro-30

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Cabos e cabinhos a decorar as paredes setubalenses 

Seguramente o que mais custa a qualquer proprietário é depois de recuperar uma peça do seu património imobiliário ver que passado pouco tempo o mesmo está amplamente decorado com cabos e cabinhos das mais diversas empresas que por aí vão atuando impunemente, dando um aspeto terceiro mundista às novas artérias ou às zonas históricas.

E a pouca vergonha e impunidade é de tal ordem que nem sequer usam a calha técnica para passar os cabos pelo interior, minimizando desta forma o desagradável impacto visual.

Estes artistas colocam os cabos como lhes dá mais jeito e tanto lhes faz que eles vão por cima de placas toponímicas, por cantarias ou sobre painéis de valor histórico e, se houver cabos de antenas coletivas tratam de colocar o alicate em ação e zás! corta-se e pronto…

Ao que parece finalmente em Setúbal, na zona da baixa, os cabos vão começar a ser enterrados, a fazer fé nos trabalhos que foram iniciados na  Rua Augusto Cardoso, onde uma equipa de trabalhadores da União de Freguesias de Setúbal por lá começou a escavar.

Seria feio, muito feio mesmo que depois de mais um edifício recuperado, na Antiga Rua de São Sebastião, precisamente em frente àquele onde foi a sede do jornal O Setubalense e agora funciona um hostel, o mesmo ficasse com um arraial de cabos e cabinhos pendurados conforme a imagem demonstra.

Mesmo que os cabos fiquem  devidamente presos ao edifício não deixam de desvirtuar todo o trabalho de recuperação do imóvel, pelo que é de esperar que o enterramento dos cabos das operadoras se processe por toda a baixa.

Rui Canas Gaspar
2016-novembro-29

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domingo, 27 de novembro de 2016

Obrigado setubalenses 

Esta cidade está imparável com muitos e diversificados eventos a acontecer para todos os gostos, daí que muitas pessoas ao optarem por um não possam ir a outro, o que é absolutamente natural. O que não  é natural é que continue a haver pessoas que afirmam que nada acontece nesta cidade. Pura ignorância!

Ontem, sábado 27 de novembro para a apresentação do TROIA – Um Tesouro por Descobrir, apareceram pessoas antes da apresentação que só vieram cumprimentar o autor, adquirir um livro, recolher o autógrafo e sair porque tinham outro evento.

Depois da apresentação e quando a “tralha” já estava toda arrumada outras pessoas chegaram, vindas de outro evento mas que não quiseram perder a oportunidade de vir cumprimentar e “parabenizar” pelo facto de a partir de agora termos um novo livro sobre a nossa região e que tanto diz aos setubalenses.

Mas o curioso foi ver na plateia amigos que vieram de outros convívios, alguns tendo-se deslocado a Setúbal de propósito e que também quiseram estar presentes.

Mas o mais interessante foi ver o rasgado sorriso de uma senhora que mal ali chegou, tratou logo de me dizer: “Acabamos de chegar de Troia, andamos a pé lá pelas ruínas”. Esta senhora com o seu marido foram certamente dos poucos setubalenses que teriam estado para aquelas bandas da arenosa península, neste dia chuvoso e pouco agradável.

De facto estou a falar de um casal, que tendo nascido em terras germânicas e por lá tendo vivido se apaixonou por Setúbal e já fez mais por esta cidade, de forma discreta, do que muitos “papagaios” que se arvoram de setubalenses e mais não fazem que falar mal desta terra de nascimento ou adoção.

Goste-se ou não das obras de arte que adornam a nossa terra, até há poucos anos despida de elementos escultóricos, alguém as pagou e garanto-vos que boa parte desse dinheiro não veio dos nossos impostos, mas sim daquele casal que formaram a Fundação Buehler-Brockhaus entidade que tem apoiado com muitos largos milhares de euros a arte na nossa terra. 
  
São eles que estão também a apoiar financeiramente os trabalhos de recuperação das pinturas da basílica romana de Troia.

Pessoas simples e simpáticas Marion e seu esposo Hans-Peter Buehler são de facto daquelas pessoas que considero como bons setubalenses, de quem eu gosto, que não dispensam a ida ao meu bairro de Troino almoçar o delicioso peixe assado da nossa terra.

São assim os amigos, são assim os setubalenses de nascimento ou de coração, para eles um forte abraço e o meu muito obrigado.

Rui Canas Gaspar
2016-novembro-27

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sábado, 19 de novembro de 2016

Agradando aos gregos e troianos de Setúbal 

Há sempre quem não goste muito de determinados assuntos que são discutidos no grupo faceboquiano “Coisas de Setubal”, por vezes, entrando-se em infindáveis discussões, vindo logo alguém dizer que se está a “lavar roupa suja”, pelo facto de nem sempre haver concordância. Coisa  que por acaso até é salutar em democracia...

Pois em homenagem a estes personagens a Autarquia Sadina decidiu erigir-lhe um monumento e, vai daí, tratou de o colocar nesta linda manhã de sábado no Parque do Bonfim, aparecendo assim mais um pasmadinho, a famosa e emblemática “lavadeira de Azeitão”.

Mas, para que a moça não se sentisse só, embora por vezes seja preferível só que mal acompanhada, bem junto a esta foi também colocado um observador de aves daqueles que aparecem lá pelo moinho de maré da Mourisca. Isto não só em homenagem ao nosso amigo Zé, mas também a todos aqueles e aquelas que para ali vão observar a lua, as estrelas e outras coisas mais.

É claro que este pasmadinho observador deslocou-se desta vez não para a Mourisca mas para o Parque do Bonfim para ver se chegam os patos que dali sumiram e deram lugar aos repuxos.

E então não é que o rapaz acertou na mosca?!...  Bem, de facto os primeiros patos, comandados pelo general ganso já se deliciam com as águas do lago e logo que os outros reais patos saibam que há companhia e comida não deixarão de também voltar para a sua anterior residência.

E para que não se possam enganar no local saibam os patos setubalenses que agora o bonito e vetusto parque está dignamente assinalado com mais um artístico motivo, alvo de atração para os de cá e para aqueles que nos visitam.

Com repuxos e com patos bravos e dos outros a nossa Câmara Municipal conseguiu ( a ver vamos!...) agradar aos gregos e troianos setubalenses.

Rui Canas Gaspar

2016-novembro-19

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Aconteceu em Setúbal
Efeméride esquecida

Naquele outonal dia 15 de novembro de 1943, quando raras viaturas por ali se viam, um automóvel rolava a alta velocidade pela Estrada Nacional Nº 4, bem perto no lugar de Cova do Lagarto, entre Montemor-o-Novo e Vendas Novas.

A bordo vinha um dinâmico engenheiro, responsável por várias obras que estavam a mudar a face do país. Ele tinha-se deslocado logo pela manhã a Vila Viçosa para se inteirar dos trabalhos de construção da estátua de D. João IV e agora regressava a Lisboa cheio de pressa para estar a horas no Conselho de Ministros que se realizaria nessa tarde.

Um despiste fez com que o veículo fosse embater com o lado direito num dos sobreiros que bordejava a estrada e logo ali um dos acompanhantes encontrou a morte enquanto os restantes companheiros sofriam ferimentos ligeiros. Porém o de Duarte Pacheco, Ministro das Obras Publicas e Comunicações  foi bem mais grave.

As vítimas do acidente foram trazidas para Setúbal onde deram entrada no Hospital da Misericórdia, com instalações anexas à Igreja de Jesus, onde foram prontamente socorridas.

Mal foi informado da ocorrência Salazar reuniu uma equipa de reputados médicos e rapidamente dirigiu-se para Setúbal onde nada puderam fazer a não ser confirmar o óbito do dinâmico ministro, na madrugada de 16 de novembro de 1943.

Uma hemorragia interna ditou o fim daquele algarvio nascido em Loulé no dia 19 de abril de 1900, data em que se comemora a elevação de Setúbal à categoria de cidade.

Desaparecido do mundo dos vivos com apenas 43 anos este grande engenheiro e estadista deixou o seu nome ligado a Setúbal, no nascimento e na morte, sendo de assinalar as numerosas obras que promoveu um pouco por todo o nosso país, desde pontes a edifícios, sendo de salientar a sua responsabilidade na construção dos edifícios do Instituto Superior Técnico, em Lisboa.


E assim se comemora uma esquecida efeméride de um grande português que curiosamente ficou ligado a Setúbal, no nascimento e na morte, provavelmente nunca pensando que tal lhe viesse a acontecer.

Rui Canas Gaspar
2016-novembro-14

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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Deram pelo aumento do parqueamento em Setúbal? 

Quando me preparava para introduzir a moeda no parcómetro, o arrumador surge de tiket na mão perguntando se ficaria por ali mais de meia hora. Digo que não, apenas o tempo de passar pela praça, comprar alguns frescos e ir embora.

Fiquei com a senha que um automobilista que não tinha utilizado a totalidade do tempo teria ofertado ao arrumador e naturalmente gratifiquei-o pelo sua atenção.

O rapaz desata então num interessante monólogo dizendo que assim também ele poderia ser presidente da câmara. “É só aumentos! Veja lá o vizinho que os bilhetes aqui nas máquinas passaram para o dobro do preço, ou seja aquilo que pagava para uma hora de estacionamento dá agora para meia hora.”

O monólogo rapidamente transformou-se numa lamentação coletiva, dado que um outro automobilista que acabara de parquear tratou de emitir a sua opinião, um outro transeunte, bem à moda de Setúbal, ouviu e igualmente participou e como não podia deixar de ser lá estava eu também no grupo de “lamentadores”.

Ainda não consegui apurar se de facto o aumento das tarifas de parqueamento subiu para o dobro, para mais do dobro como outro afirmou, ou para menos. O facto é que subiu e subiu muito!

Se o carro para alguns pode ser um luxo, para outros é uma necessidade e como se não bastasse os elevados impostos diretos e indiretos que já sobrecarregam os automobilistas a nossa autarquia vem lançar um aumento destes…

Será que os nossos autarcas estão convencidos que pelo facto de terem mandado construir ciclovias e passar avenidas a ruas os setubalenses vão deixar o carro tão necessário para o carrego das compras e tratarem dos mais diversos assuntos um pouco por toda a cidade? Ou será que a ineficaz frota de transportes públicos setubalenses melhorou sem termos dado por isso?

Se há despesas tem de haver receitas, toda a gente sabe disso, mas assim com estes aumentos brutais não me parece aceitável, quando em contrapartida o que nos oferecem é uma mão cheia de nada.

Rui Canas Gaspar
2016-novembro-11

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sábado, 5 de novembro de 2016

Semana de más notícias para Setúbal 

Não gosto de chantagem, muito menos de chantagistas e detesto ameaças, mesmo que veladas.

Digo isto a propósito da notícia que veio a lume de que a Coca-Cola não iria avançar com um projeto de ampliação das suas instalações em Azeitão, ao que parece porque a nova “lei do açúcar” (imposto que o governo se propõe levar a cabo sobre as bebidas com açúcar) iria bulir com o seu negócio.

Assim sendo, aquela multinacional deixaria o seu projeto em “banho Maria” esperançada de que o Governo pudesse rever a Lei. Ou seja, ou fazes a coisa de forma a que a gente continue a faturar bem ou se vieres com alguma ideia estranha que o negócio possa vir a diminuir não avançamos com o nosso projeto e, como tal, não admitiremos mais uns quantos trabalhadores.

Ora a meu ver isto mais não é do que chantagem, ameaça velada, ou algo muito parecido.

Aos governantes o que se pede é que governem de acordo com o superior interesse dos cidadãos e não de acordo com esta ou aquela empresa, ou este ou aquele grupo de pressão.

A semana acabou também com outra notícia nada agradável, que foi a chegada de um cargueiro com uma pequena percentagem das várias toneladas de lixo italiano para ser tratado (???) numa empresa particular que opera em Setúbal.

Os negócios das empresas são particulares, porém atendendo à especificidade da matéria-prima a mesma carecia de prévia intervenção das autoridades governamentais portuguesas, responsáveis pela área do ambiente, que a fazer fé na notícia veiculada pela RTP onde pouca ou nenhuma coordenação parece existir.

Curiosamente e de forma quase infantil, os nossos “governantes” remetem eventuais responsabilidades para o governo italiano, esquecendo-se (ou querendo fazer-nos de parvos) que o negócio do lixo por aquelas bandas está nas mãos da máfia e que esta não vai pagar para se ver livre do “lixo bom” ficando lá com o “lixo mau”.

Por outro lado, aqui na santa terrinha, logo uns setubalenses por ignorância ou má-fé, tratam de aproveitar a boleia para se atirarem com unhas e dentes à presidente da C.M.S. como se ela tivesse qualquer responsabilidade na malcheirosa importação.

E dirão alguns outros: “para que serve toda esta lengalenga na internet e os comentários dos mais diferentes opinadores?” Eu responderia: Não sei!

Mas de uma coisa tenho a certeza, a ignorância e o esconder a cabeça debaixo da areia como a avestruz nunca resolveu coisa nenhuma e, pelos vistos, alguma coisa se vai fazendo neste e noutros países graças à comunicação social que vai levantando a caça.

E não será a internet com as suas redes sociais um local privilegiado de debate, do exercício da democracia e de informação que formará os cidadãos que irão exercer o seu direito de voto de forma mais esclarecida e consciente, correndo do poleiro gente corrupta e incompetente?

Ora pois então responda quem quiser, ou souber!...

Rui Canas Gaspar
2016-novembro-05

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A Antónia Soromenho partiu para o eterno acampamento

Há pouco mais de meio século  Antónia morava lá longe, no campo, perto da linha do caminho de ferro, quando poucas casas ainda existiam por aquelas bandas e para os rapazes e moças de Setúbal tudo era bem afastado, habituados como estávamos ao nosso pequeno espaço.

A menina bonita com uma longa e grossa trança negra  habituou-se a vencer distâncias e todos os dias vinha da Venda do Alcaide até Setúbal para estudar na Escola Industrial e Comercial de Setúbal.

Moça simpática de voz calma e mansa, rapidamente conquistou o nosso grupo de Escuteiros sedeado na Ordem Terceira, em Setúbal, com quem começou a conviver e foi ali que foi encontrar o Ricardo por quem se viria a apaixonar.

Do nosso grupo apenas um ficou por cá, todos os outros escuteiros partiram para a guerra colonial que os movimentos independentistas travavam em Angola, Moçambique e Guiné e foi para aí que quer eu quer o Ricardo fomos enviados para servir no Exército Português.

Regressados de África a menina da trança preta, já sem ela, casou com o jovem desenhador setubalense a quem deu dois filhos, o Rui e o Pedro.

A Antónia fez a sua carreira profissional como funcionária na Segurança Social em Setúbal, enquanto o Ricardo palmilhou milhares e milhares de quilómetros a caminho do Algarve, onde em Vila Moura foi responsável pelos projetos daquele grande empreendimento que conhece como a palma de sua mão.

Os anos passaram, mas a Antónia continuou com o seu sorriso afável, um falar calmo, que transpirava bondade e que todos lhe reconhecíamos.

Um dia sentiu que alguma coisa não ia bem com a sua boca, pensou que era um dente, mas não, era o cancro que lhe iria levar desta vida.

Os médicos fizeram o que a medicina pode fazer e que o corpo e a mente humana pode aguentar, mas foi galopante, e ontem dia 4 de novembro deste ano de 2016, um amigo comum enviava-me uma mensagem indagando se eu confirmava ou não o óbito.

Surpreendido pela notícia, telefonei a uma amiga comum que me confirmou a triste notícia. Mal tinha desligado um telefone outro tocou, era o Ricardo que me queria participar que a nossa Antónia tinha partido.

O corpo ficou em Setúbal onde estará na capela de São Paulo a partir das 11,30 e pouco depois, pelas 17,30 será levado para o Cemitério da Paz, em Algeruz, onde será incinerado.

Adeus Antónia, até um dia!...

Rui Canas Gaspar
2016-novembro-05

domingo, 30 de outubro de 2016

O INACREDITÁVEL ACONTECEU EM SETÚBAL

Tenho vindo a congratular-me com os arranjos e a valorização  que tem vindo a ser levado a cabo no nosso mais antigo e sempre belo Parque do Bonfim.

Hoje, 30 de outubro deste ano de 2016 fui surpreendido com a novidade de que o antigo bebedouro, colocado perto do parque infantil, trabalhado em brecha da Arrábida, uma pedra que já não pode ser extraída e por isso mesmo se vai tornando rara e extremamente cara, teria sido substituído.

Mas, embora acreditando na novidade que me estavam a dar, acabei por fazer como o São Tomé, fui ver para crer.

O que vi  deixou-me estupfacto pelo tremendo mau gosto e pela inutilidade da substituição do artístico bebedouro.  É que o mesmo foi de facto retirado e substituído por um tubo metálico com o bebedouro em inox no topo da coluna.

Como cereja em cima do bolo, os “artistas” deixaram um bloco de pedra (brecha da Arrábida) ao lado do tubo para as crianças mais pequenas poderem chegar ao topo do equipamento.

Olhando para a nova escultura, a D. Vinha, veio-me à mente que aquela senhora pouco satisfeita certamente  ficaria se lhe retirassem uns lindos e trabalhados brincos de ouro puro para os substituir uns quaisquer lisos e sem jeito e ainda por cima de fantasia.

Não é a primeira vez que material retirado do Parque do Bonfim vai parar a edifícios particulares. Bem à vista de todos estão as pedras retiradas da antiga fonte do anjo da guarda e que foram adornar as janelas da gruta de Santo António que hoje ainda podemos ver (agora com maior destaque) no Palácio Botelho Moniz.

Não sei se isso irá acontecer, por isso não vou levantar falso testemunho, mas não gostaria de ter conhecimento de que a coluna artisticamente trabalhada em brecha da Arrábida vá um dia aparecer num qualquer jardim particular.

Como cidadão desta terra e, como tal, coproprietário desta peça julgo ter o direito de saber onde ela foi parar e qual o destino que irá ser dado à mesma.

Porque vivemos em democracia não posso questionar as ações do Executivo municipal, porquanto se encontra legitimado pelos votos expressos em urna. Isso não impede o vulgar cidadão de apontar aquilo que em seu entender representa uma asneira crassa e um atentado contra o património coletivo segundo sua opinião.

Tenho pena de ter de referir este assunto, mas se os elogios são para dar o apontar de asneiras não pode ficar silenciado e esta é mais do que uma asneira é um verdadeiro atentado ao bom gosto e ao património setubalense que deve ser cabalmente esclarecido por quem de direito.

Rui Canas Gaspar
2016-outubro-30

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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Hoteis e hosteis em Setúbal são demais ou de menos?

No passado ano de 2015 o Hotel Isidro, uma unidade hoteleira setubalense com 70 quartos,  fechou portas provavelmente por incapacidade de resistir à crise económica que se tem vindo a arrastar ao longo dos últimos anos.

A cidade onde não abundava oferta de camas para a procura  turística  ficou mais pobre com este encerramento.

Nos últimos tempos temos vindo a ser confrontados com um aumento da atividade turística na cidade e na região, dizendo-se até que Setúbal está na moda.

Com ou sem modas, o facto é que esta é uma região de beleza  ímpar e tem potencialidades invejáveis que estão a ser descobertas por cada vez por mais nacionais e estrangeiros.

Curiosamente desde que o Isidro encerrou já abriram mais de meia dúzia de pequenas unidades hoteleiras tipo Hostel, as quais no seu conjunto provavelmente não ultrapassarão em muito o que se perdeu com o desaparecimento daquele Hotel.

Sendo assim, dei comigo a pensar que atendendo ao aumento da procura e à abertura das novas unidades, se teremos assim tanto excesso de oferta de camas como alguns setubalenses dizem haver.

Não tenho elementos fiáveis que me permitam afirmar cabalmente que começa a haver hosteis a mais ou a menos, mas fico com a sensação de que Setúbal ainda tem potencial para crescer nesta área de apoio ao turismo.

Bom seria que a par da abertura destas unidades hoteleiras se continuasse a embelezar e a tornar a cidade cada vez mais atrativa, eliminando-se tanto quanto possível o flagelo dos grafites e tags que por aí proliferam e se conseguisse também um nível de higiene e limpeza um pouco mais elevado tornando assim a urbe bem mais agradável para os que aqui vivem e para quem nos visita.

Rui Canas Gaspar
2016-outubro-25

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sábado, 22 de outubro de 2016

O rio azul hoje vestiu a fatiota cinzenta

O Sado está agitado, não tanto quanto seria de esperar a fazer fé nas previsões meteorológicas. O céu que se apresentava bem escuro para as bandas da Arrábida, de quando em vez, aparecia sorridente para os lados de Troia.

Meia dúzia de veleiros de pequeno porte navegavam lá longe, perto da barra, bastante inclinados para estibordo e deslocando-se provavelmente para Sesimbra.

A poderosa lancha dos pilotos da barra “Baía de Setúbal” fabricada nos estaleiros irlandeses e  para a qual despendemos pouco mais de meio milhão de euros, lá vai veloz, saltitando sobre as ondas a caminho da barra para que um dos nossos competentes profissionais faça entrar em segurança mais um navio que aqui vem carregar ou descarregar mercadorias.

Em cima da muralha já se podem observar alguns pequenos troncos e tábuas, ali colocadas ordeiramente pelo agitado mar, outras tantas estão no areal e outras ainda podem ser observadas sobre as ondas junto à costa.

A ondulação nestes dias em que o rio se apresenta pouco calmo trás de tudo um pouco para terra e ainda fiquei na esperança de que a caixa que acabei por fotografar pudesse conter um carregamento de deliciosos e frescos chocos.

Mas não, a caixa vinha vazia e se os quiser comer terei de ir comprar à “praça” o nosso magnífico Mercado do Livramento ou então ir saborear uns pedaços de “chôque frrite” a um sítio que eu cá sei, já que até os malandros dos roazes que costumavam comer as cabeças e deixar o resto do corpo dos moluscos devem estar em greve de fome.

Assim como assim, mesmo com este tempo outonal não fique em casa e saia para apreciar o nosso rio que mesmo não se apresentando hoje vestido de azul não deixa, por isso, de ter menos beleza.

Rui Canas Gaspar
2016-outubro-22

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