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sábado, 1 de agosto de 2015

A velha porta da Rua das Oliveiras

Por esta velha e cansada porta, entraram rijos e honestos pescadores, operárias conserveiras, gente humilde, gente boa que souberam criar os seus filhos como pessoas de bem e dar-lhes o melhor que podiam naqueles tempos difíceis sobretudo na época de defeso da pesca da sardinha.

Em pleno Bairro de Troino, ela ainda lá se mantém, com a sua mãozinha onde outras pequenas mãozinhas seguraram para a encostar, no tempo em que não era necessário fechar e onde as portas das casas estavam igualmente encostadas.

Era um tempo em que os vizinhos funcionavam como se de uma grande família se tratasse, em que os rapazes vinham jogar à bola para a rua, que parecia bem mais larga e onde nas noites quentes de Verão se sentavam à porta conversando e convivendo.

Tempos felizes, tempos diferentes em que as pessoas se contentavam com pouco, naturalmente porque não conheciam o muito. Porém, se os bens materiais eram escassos, a solidariedade era por demais abundante.

Num daqueles cinzentos dias de Inverno parte da muralha que circundava a cidade abateu-se sobre o prédio a que pertence esta velha porta e logo a vizinha da frente, D. Dora, ofereceu os seus préstimos e as instalações de sua própria casa para ali guardar os parcos haveres enquanto não se arranjasse nova habitação.

Que maravilhosos pensamentos, que gratas recordações guardo desta velha porta, da sua vetusta mãozinha de ferro que ainda lá está e onde a minha pequena mãozinha tantas vezes segurou já lá vão algumas dezenas de anos.

Num destes dias fiz questão de ir mostrar ao meu pequeno neto o Bairro de Troino onde nasci, a Rua das Oliveiras onde pela primeira vez vi a luz do dia e contar-lhe as estórias do seu avô e dos seus antigos amigos e vizinhos quando tinha a sua idade e entrava por esta velha porta que tantas boas memórias me fez vir à mente.

São coisas de Setúbal, que nos marcam para toda a vida e que vamos partilhando com os amigos naturais e virtuais, agora que temos à nossa disposição esta poderosa ferramenta que há alguns anos era para nós impensável, a internet.

Rui Canas Gaspar
2015-agosto-01

www.troineiro.blogspot.com

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