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segunda-feira, 23 de março de 2015

A propósito da introdução dos javalis na Arrábida

Em 2013 ainda não se falava na proliferação de javalis na Serra da Arrábida e estando a recolher material para escrever o livro “Mistérios da Arrábida” (não editado) recolhi elementos e testemunhos junto de habitantes e bons conhecedores da serra. Daí resultou um texto de que partilho parcialmente.

“O Tapir olhava para aquela terra revolvida, onde ainda se podiam ver à superfície alguns bolbos de lírios selvagens. Coçou o queixo com ar apreensivo, virando-se para o Grande Urso perguntou:

- Mas como é que animais desse porte que se encontravam extintos agora podem ser observados por aqui, que mistério vem a ser esse?

O rapaz baixou-se e, com a sua faca-de-mato, escavou pequenos buracos naquela terra remexida onde foi enterrando os bolbos que se encontravam espalhados à superfície, enquanto o seu companheiro, o entendido Grande Urso, respondia.

- Ao certo, ao certo, não te posso dizer porque não vi como foi feito, porém como vocês sabem eu interesso-me por tudo o que seja animal existente aqui no P.N.A. e falando com o meu pai sobre o assunto, ele esclareceu-me, dizendo que a informação lhe tinha chegado por intermédio de um velho amigo que é caçador.

Conta-se por aí que certos senhores ricaços que costumavam ir caçar para o Alentejo, lá para as bandas do Alqueva, andavam desgostosos por este ser o único Parque Natural onde não existia caça grossa e vai daí trataram de comprar uns javalis, de diversas proveniências, para evitar problemas de consanguinidade e, numa noite, largaram-nos aos casais, em quatro diferentes pontos do Parque.

Algumas das fêmeas até já se encontravam prenhas. Os animais começaram a reproduzir-se rapidamente e a disseminar-se por todo este território.

Ora como os javalis podem andar por noite entre dois a catorze quilómetros e como as javalinas podem ter entre dois a dez leitões por ninhada, então não é de admirar como rapidamente este Parque fosse repovoado a partir da sua reintrodução, podendo-se já ver estes animais um pouco por todo o lado.

E já são tantos que os acidentes rodoviários têm vindo a ocorrer em algumas estradas aqui do parque, com animais atropelados e viaturas danificadas, pelo que se torna urgente serem colocados sinais de trânsito a informar os automobilistas para a existência de caça grossa.”

Rui Canas Gaspar (in: Mistérios da Arrábida)

2015-março-23


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