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sábado, 15 de novembro de 2014

O que sabemos nós setubalenses sobre a Rua do Gás?

Quando olhamos para a nossa bonita cidade amplamente iluminada, com as luzes a refletir nas calmas águas da “baía dos golfinhos” não nos passa pela cabeça que em tempos não muito distantes ela era tomada por uma escuridão quase absoluta.

Faz neste ano de 2014, precisamente um século que faleceu o poeta setubalense Paulino de Oliveira a que a edilidade atribuiu no Bairro de Troino o seu nome a uma concorrida artéria daquela tão característica zona.

Numa altura em que a cidade de Setúbal vai substituindo o sistema de iluminação pública tradicional pelo que de mais moderno existe no mundo, a iluminação LED, é bom lembrar que quando Paulino de Oliveira vivia na nossa terra a iluminação era de tal forma forma deficiente que pouco depois de se pôr o sol a localidade mergulhava nas mais profundas trevas.

Nesse tempo algumas, poucas, luminárias a azeite eram colocadas em alguns locais estratégicos da cidade. Porém devido às características das lamparinas, abastecidas com azeite, a sua luz não teria muito tempo de duração, pelo que, poucas horas depois de serem acesas a sua fraca luz extinguir-se-ia.
Alguns anos mais tarde, uma inovação chegaria também a Setúbal, a iluminação a gás.
O jornal “O Curioso de Setúbal” noticiaria no seu editorial datado de 26 de junho de 1858 a novidade acerca da projetada iluminação a gás: “Vamos dar mais um passo no caminho da civilização, vamos gozar de mais uma vantagem, que a indústria do homem inventou para a comodidade da vida e para o aformoseamento das povoações (…)”.

Agora que as principais artérias de Setúbal deixavam de estar às escuras outra realidade se apresentava e o poeta Paulino de Oliveira legou-nos a sua impressão sobre isto mesmo, escrevendo:

(…)
De noite, outro triste aspecto
O gás, muito frouxo, em fila,
Lembra um enterro nocturno,
Em procissão que desfila.
(…)
Os candeeiros, de perto,
Ao vento as luzes tremidas,
Lembram bêbados, aos bordos,
Dizendo pragas sumidas.

Para o fabrico do gás de iluminação foi então construída uma unidade fabril sedeada no local hoje ocupado pelo moderno edifício dos serviços das Águas do Sado, em plena Avenida Luísa Todi.

Desses tempos de escuridão foi-nos legado como memória o nome de uma artéria da cidade, precisamente o nome da rua a poente do referido edifício, onde podemos ler na respetiva placa toponímica: “Rua do Gás”.

Rui Canas Gaspar
2014-novembro-15

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