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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Desapareceu mais um monumento em Setúbal

No dia 8 de julho de 1886 Hans Christian Andersen o escritor dinamarquês mundialmente conhecido devido às suas célebres histórias infantis, chegou a Setúbal onde acabou por passar de um mês de férias, tendo tido então oportunidade de  conhecer a cidade e seus pitorescos arredores, tendo-lhe até sido facultada a possibilidade de conhecer os areais de Troia e a verdejante Arrábida.

O escritor teve ainda o ensejo de conhecer outros locais desta pequena mas diversificada nação e, a opinião que formulou sobre a mesma, poderá resumir-se neste pequeno verso que escreveu no livrinho da família O’Neill, sua anfitriã:

“Lá no plano Norte verdejante,
Recordando todas as impressões vividas
Para Setúbal voará o pensamento distante
Para junto de todas as pessoas queridas”.

Certo dia um açoriano de nascimento, mas setubalense de coração, Manuel Medeiros, dono da Livraria CULSETE, decidiu honrar o escritor, não com uma estátua mas com um monumento vivo, um abeto da Noruega.

E assim apareceu na Avenida Luísa Todi, quase em frente ao coreto, um bonito canteiro, com um abeto. Ali poderia ler-se numa placa: “Abeto plantado em homenagem a Hans Christian Andersen, Câmara Municipal de Setúbal, Comissões Nacionais da UNESCO de Portugal e Dinamarca, Livraria CULSETE. Outubro de 1998.

Numa outra placa: “Plantei em Setúbal um pequeno abeto nórdico. Quando crescer o vento Norte ao abaná-lo com o seu sopro ai deixará uma saudação da Escandinávia distante” H. Andersen, uma visita a Portugal em 1866 – Cap. IV

Aquando das obras de renovação da Avenida Luísa Todi, no âmbito do POLIS é construído um quiosque quase em cima do canteiro, retirando ao local toda a dignidade e quase anunciando a sua morte devido à movimentação de pessoas e coisas praticamente em cima da pequena e bela árvore.

Esta decisão de localização do quiosque, desprovida de qualquer sentido estético e denotando o maior desrespeito por este monumento vivo, constituiu o princípio do fim.

E foi o que hoje dia 9 de setembro de 2014, com tristeza e com vergonha constatei que aquele  monumento vivo, ali colocado por verdadeiros setubalenses de coração ou de nascimento tinha sucumbido, no seu lugar estava apenas o pouco que resta do seu forte tronco, capaz de suportar os ventos frios do Norte, mas não a força da ganância.

Veio-me então à mente aquela frase célebre de um velho e sábio índio Cree: “Só quando a última árvore tiver morrido, o último rio tiver sido envenenado, o último peixe tiver sido pescado é que descobriremos que não podemos comer o dinheiro”.

Rui Canas Gaspar
2014-setembro-09

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