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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Poço das Fontainhas

Das muitas nascentes, poços e fontanários que existiam em Setúbal, pouco ou nada resta que nos possa contar como é que os nossos antepassados tinham acesso ao precioso e indispensável líquido, fonte de vida.

Dos grandes fontanários existentes apenas chegaram aos nossos dias as fontes do Sapal, do Quebedo e a Fonte Nova. Quanto aos poços comunitários apenas resta a réplica do Poço do Concelho e o Poço das Fontainhas, o único original existente em terras sadinas.

E era aqui à sombra do seu amplo arco que há meio século ainda se podiam observar os varinos a tratar dos seus apetrechos de pesca e, quem sabe, alguns deles a deitarem o olho às bonitas jovens que ali vinham encher as suas bilhas de água pura e fresca.

O tempo passou, a fonte secou e há pouco tempo esta rara peça do nosso património histórico, localizado nas Fontainhas, encontrava-se  praticamente ao abandono e, pela sua localização e estrutura construtiva, era comum vermos ser utilizada como instalação sanitária.

Foi graças ao esforço de um empresário local, com estabelecimento de restauração junto ao poço que aquela peça histórica começou a apresentar um aspeto mais decente, apresentando-se ultimamente pintado e limpo.

Tempos mais tarde, o restaurante ao ter de construir a cobertura para a sua esplanada teve a aprovação camarária para integrar no seu interior o histórico poço, sendo que a cobertura deixa de fora a parte superior da construção, mantendo no seu interior o fontanário propriamente dito.

Alguns setubalenses têm-se insurgido com esta aberração que é ter dentro de um estabelecimento privado uma peça histórica do património público.

A questão que se põe, quanto a mim, é o de saber o que é que foi feito pelo poder público para salvaguardar a fonte prestes a ficar destruída?

O interesse autárquico por esta peça única deveria ser pouco ou nenhum a ponto de autorizar a inserção dentro do espaço concessionado.

Como se isso não bastasse e, para além de nada ter feito para preservar o fontanário, a Autarquia ainda recebe agora algum dinheiro à sua conta, porquanto o industrial de restauração ao pagar pelo espaço da esplanada coberta está a pagar a área abrangida pela fonte.

Sendo assim, será lícito, enquanto cidadão eu me poder vir a insurgir contra uma pessoa que para além de recuperar uma peça patrimonial coletiva ainda tem de pagar à Autarquia pelo espaço ocupado pela mesma?

Dá que pensar nesta aberração, não dá?

Rui Canas Gaspar
2014-julho-07


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