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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Como me cortaram a carreira de jornalista e de bombeiro…

Longe vão os tempos em que as crianças do bairro de Troino e de tantos outros bairros típicos da nossa cidade podiam brincar na rua, até que ouvissem a sua mãe chamar pelo seu nome para regressar a casa, tal como as sirenes das fábricas o faziam para convocar as suas operárias quando as fábricas “metiam peixe”.

Os carros eram raros e por vezes quando algum passava pelas nossas bandas logo corríamos para nos empoleirar na traseira do mesmo e desta forma andar alguns metros de boleia, sem medir o perigo a que nos sujeitávamos.

Claro está, que para os moços o perigo não existe, enquanto para as mães ele está sempre à espreita em tudo o que seja lado. Isso era assim ontem, é hoje e continuará a ser amanhã.

- Certo dia, morando a nossa família na Rua das Oliveiras, estava minha mãe a barrar com manteiga o tacho de barro onde iria cozer o bolo de farinha de milho, e eu saltitando à sua volta à espera que a massa estivesse feita para lamber os restos, quando começamos a ouvir as sirenes dos carros dos bombeiros que subiam pela estrada do Viso, nas traseiras da nossa rua.

O bolo para mim deixou logo de ter interesse e, com indisfarçável satisfação, disse para a minha mãe que ia ver onde era o fogo.

- Não vais! Podes ser atropelado. Dizia a minha mãe. Vou! Não sou nada atropelado. Não vais! Vou… Não vais! Vou…

A minha mãe perdeu a paciência e com o tacho de barro já barrado com a manteiga, agarrando com ambas as mãos, bateu-o na minha dura cabeça que se encontrava coberta com uma boina por causa do frio.

O tacho ficou feito em mil pedaços, o bolo deixou de ser feito, levei mais umas palmadas no traseiro e, pelos vistos isso viria a influenciar o meu trajeto profissional futuro que não passaria por seguir a carreira de repórter nem sequer a de bombeiro…

Rui Canas Gaspar
2014-julho-23


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